Eu e Santo Onofre no boteco
Uma coisa que muita gente não sabe é que o homem que toma cachaça passa por três fases distintas na vida:
- 1) a do macaco, aquela em que fica bêbado e fazendo graça pras pessoas. Sente-se “O” engraçado, “O”divertido;
- 2) a fase do leão, qualquer “gulim” que o miserável toma já se sente “O” valente, bate em todo mundo, mata todo mundo;
- e a terceira e última (até por que, é daí pro cemitério na maioria das vezes), é a fase do porco, aquela em que o sujeito fica caído pelas ruas, sujo, acabado.
Na minha vida de cachaceiro consegui a proeza de ir até a segunda fase, ainda bem que tive juízo e parei por aí.
Na verdade, não foi bem o juízo que me impediu de chegar à última fase.
Vou contar a minha vergonha (alias, é só isto que tenho contado neste blog).
Uma noite, não me lembro a época do ano, nem a hora, na verdade, acho que nem do meu nome eu lembrava mais, de tão bêbado que estava. Já não estava a “mil” como dizem, estava a “mio”, miando de bêbado.
Perto da igreja dos Passos havia um boteco copo sujo, mas sujo mesmo. Do tipo que você entra e pede: quero uma cachaça! Daquela que a tampa está caindo da garrafa! E o dono do bar responde: não é tampa não! !Saí daí barata!
Era o boteco de Sá Ana Bananeira. Nem me perguntem o porquê do apelido, não tenho idéia.
Entrei. Tinha três homens jogando sinuca e mais um encostado no balcão.
Pedi uma cachaça. Olhei pro sujeito que estava no balcão e pensei (olha só a idéia do “bebum” aqui! É PHODDA, viu?): Vou dar uma porrada neste sujeito! Isto mesmo! Assim! Do nada! Deu vontade.
Não pensei em nada mais. Soltei o braço! E apesar de muito tonto, foi um dos murros mais bem dados da minha vida.
O cara deu uma “capotada” e onde caiu ficou! Mas pra minha infelicidade os outros que estavam jogando sinuca eram amigos dele.
Pararam de jogar e resolveram mudar a modalidade esportiva que estavam praticando. Resultado: resolveram jogar ping-pong na mesa de sinuca... EU era a bola...
Gente... foi tanto sopapo que tomei que até sarei da cachaça.
Pra minha sorte um deles errou o jeito de bater e eu fui parar, literalmente, de peito no meio da rua. Era a deixa que eu esperava. Não sei como me levantei, mas sei que corri demais, mas demais mesmo. Só olhei pra trás quando já estava bem perto de casa.
Quando parei de correr pensei: Eh, Onofre (santo Onofre, protetor dos cachaceiros)! Na hora de beber, você bebeu comigo, né? Mas na hora da porrada você nem pra me ajudar, nem pra chamar a policia, né? “Seu fédazunha”! Não bebe mais comigo!
Desta data pra cá nunca mais tomei cachaça. Só cerveja, vinho, e outras “cositas mas” (estas não se dão pro santo). Não por que deixei de gostar de uma pinguinha, mas só pra não dar mais nada pra este santo covarde.
Resumindo: Se beber não dirija e nem conte com ajuda do santo. Acho que ele fica bêbado muito antes de você.